sábado, 4 de setembro de 2010

Terceiro dia - Fernando




Estou Vazio.

Terceiro dia - Carlos

O Camino de Santiago têm seus mistérios e lendas que, de vez em quando são surpreendentemente reais. Rezam velhas tradiçoes que em Puente La Reina, onde se juntam os caminhos Frances e Aragones, também se juntam o corpo e a mente do peregrino já impregnado do espírito da jornada. Penso que a dormida sob a ponte, antes de cruzá-la, foi para permitir que o meu espírito e meu corpo se sincronizassem para mais essa jornada peregrina.
A partir dessa harmonização, seus sentimentos em relaçao aos fatos do presente e do passado passam por uma grande reavaliação.É como se vissemos com óculos novos que nos mostramuma nova realidade. Surpreendente.
Essa nova realidade leva a uma revisão dos nossos valores e seu reordenamento. Faz muito bem à alma e ao corpo.
Para um veterano peregrino nos Caminhos de Santiago e na vida isso não surpreende. O que me causa espanto é ver meu parceiro de viagem mudando rápidamente e se integrando da mesma magia.
Hoje enquanto pedalávamos, por opçao dele pelas dificeis e pedregosas trilhas  usadas pelos peregrinos a pé, ele me surpreendeu com uma observaçao que seria improvavel antes da jornada. Quando comentei que se prosseguissemos pela triha provavelmente atrasariamos nossa viagem ele falou "Não tem problema, se nao der tempo de terminar esse ano volto ano que vem". Quem conhece  o Fernando sabe como ele era  com relaçao a compromissos e prazos.

Ultréia - Santiago é grande.

Ultréia



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Segundo dia no Caminho - Fernando


2º Dia


Uharte a Estella

63,0 km





Albergue limpo e bem organizado, tive uma noite de sono melhor que a da passada. Talvez seja este o período de adaptação da saudade do pessoal lá de casa. Esta parte é difícil, nunca se está suficientemente preparado. Saimos numa manhã fria do verão europeu, com 13.0º. A atividade do peregrino começa cedo,antes das 6:00h, e neste ponto ainda não me aclimatei, pois anoitece às 20:30h e amanhece após às 7:00h, além do fuso de 5:00h.

Sinto-me diferente. Estou distante, sem pensamentos precisos. Não confuso, mas sem objetivos futuros. Parece que a fé que eu sempre tive desapareceu. Não consigo rezar. O caminho, antes de ser o que é, tem muitas histórias para contar. Das vidas que o percorrem e daquelas que o percorreram. A busca de algo que hoje não sei o que é.

Hoje encontramos muitos peregrinos. Pessoas mais velhas, com resistência e determinação incríveis. Solitários ou em grupos, seguiam silenciosos suas jornadas. Cidades antigas de muitas histórias alternavam-se uma a uma. Muitas vazias, pareciam abandonadas. Outras nem tanto,mas todas carregam o peso de muitos séculos passados.

E assim, após um dia em que o sol mostrou toda a sua força, chegamos a Estella.Mais um dia se passou. Preciso refletir sobre os mistérios deste caminho...não,não, preciso refletir sobre os meus mistérios!

HUARTE-ESTELLA SEGUNDO DIA NO CAMINHO - CARLOS

Uma gelada manhã nos levou pelo Caminhode Santiago até as muralhas de Pamplona. Nessa milenar cidade tínhamos um compromisso nada esotérico, despachar as mala bike pelo correio. Tivemos que sair mais de 15 km da rota para irmos até o local onde elas tinham ficado e até empacotar e remeter já passava das onze da manhã. A fria manhã se transformou num dia de muito calor. Consultei os mapas e resolví tomar uma rota alternativa para Puente la Reina. Mais uma vez Santiago de todos os caminhos nos conduziu. Quando paramos em bar para um refrigerante, a senhora que nos atendeu disse que o Caminho de Santiago passava em frente. Consultei os mapas e ví que estavamos percorendo o Caminho Aragones que nos levaria direto a Puente la Reina incluindo um local muito especial, o místico templo octognal de Santa Maria de Eunate. Santiago queria nos mostrar umas coisas por lá.


Logo depois Puente la Reina e suas casas medievais junto à ponte românica que deu nome a cidade.

No almoço um bocadilho de tortilla e uma "caña" de chopp, depois um descanso ao abrigo do sol escaldante sob os arcos centenários da velha ponte. Deitei sobre a grama, dormí e sonhei que estava no caminho junto com a Malú, como na realidade ocorreu em 2005. Acordei sentindo falta de minha parceira de viagem. Para amenizar, cantei as musicas que canto para minha filha Valentina de um ano e meio quando passeamos de bicicleta.

Os arcos romanos que já ouviram tantas coisas ecoaram a música da Valentina.

Muito sol e calor até Estella. No albergue lotado uma grande confusão causada por um casal de franceses que ocupou camas erradas. Quase sai briga pois o fraco hositaleiro se omitiu. Felizmente a coisa ficou resolvida bem.

Santiago é grande.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Primeiro dia no Caminho de Santiago - Fernando

St Jean Piet de Port a Uharte


70,0 km



St Jean Pied de Port (França) é uma cidade encantadora. A parte antiga, cercada por muralhas, é uma volta a um passado muito distante. Para se ter uma idéia do quanto, se somarmos a idade do albergue que dormimos mais a idade do Carlos(meu parceiro) dá uns 600 anos.

Logo na saída a constatação: eu estou aqui! Um misto de alegria e satisfação tomou conta de mim. Tanto tempo sonhando com este momento, e ele chegou. Isto só foi possível pelo apoio que recebi das pessoas que trabalham comigo e, principalmente, da minha família.




A subida dos Pirineus, cadeia de montanha que separa a França da Espanha foi bastante tranqüila. A estrada é ótima e os motoristas respeitam os ciclistas. Apesar das ameaças, não choveu. No topo paramos para observar o vale e fotografar o monumento a Rodan.



Muitas são as cidades no roteiro. Pequenas e sem pessoas na rua, encantam pela beleza, simplicidade e paz. Me chamou a atenção o comércio, sempre de porta fechada.

Há muitos peregrinos pelo caminho, de todas as nacionalidades. Estatísticas apontam para 300 por dia. A energia é muito grande, e que se renova de forma extraordinária quando escuto o badalar dos sinos das igrejas, que são muitas.

Chegamos final da tarde a Uharte, cidade satélite de Pamplona(Espanha). Viemos devagar, dando importância aos detalhes. Apesar de estarmos em dois, este é um caminho individual, particular a cada pessoa. Ah, o Carlos vai falar sobre qualquer coisa que aconteceu comigo ao atravessar um rio. Não dêem atenção, são alucinações.

Como peregrino, ainda me sinto matéria, preso ao mundo físico por lembranças que tenho das atividades profanas. Ainda não perdi a noção do tempo. O corpo veio totalmente, o espírito ainda não. Creio que preciso de mais uns dias para me abastecer de luz. Que São Tiago nos abençoe!



Primeiro dia no Caminho de Santiago - Carlos

Depois de uma viagem cansativa entre Camboriu no Brasil e a cidade de Sain Jean Pied de Port, nos Pirineus Franceses, pudemos descansar e ter uma boa noite de sono que foi embalada pelos sons harmoniosos de um coral que se apresentava na igreja ao lado do Albergue. O Albergue Ultréia, uma casa com mais de 400 anos, está localizado bem no coração da Velha Sain Jean.


A noite de sono foi reparadora. Despertei com uma voz dentro de minha cabeça "Acorda Peregrino, levanta e te põe a caminho, vai escrever a tua história". Meio sonolento e até um pouco assustado, saltei da cama e fui acordar meu companheiro de viagem.

Café farto no albergue e em seguida bicicletas na estrada pois hoje temos a dura subida de 27 km dos Pirineus entre Sain jean Pied de Port e Roncesvalles.





Manhã fria e ótima para pedalar, os campos e as montanhas nos colocam dentro dos cartões postais que costumamos reber dos amigos europeus.

Subida lenta e tranquila, para quem pedala regularmente pela interpraias e suas ladeirinhas.

Saudades das meninas de casa, Malú, Valentina e Carla Christina. Para amenizar vou cantando as musiquinhas que costumo cantar para a Valentina quando saimos juntos passear de bicicleta. Os Pirineus ecoaram por um bom tempo as musicas que eu canto para ela.

Pouco depois do meio dia passamos por Roncesvalles. Pensávamos em parar em Zubiri mas os albergues todos lotados nos empurraram para Huarte onde, para nossa felicidade, encontramos um ótimo albergue que nos acolheu muito bem.

O detalhe pitoresco do dia ficou por conta de meu amigo Fernando que, tentou cruzar um riacho com sua bicicleta. Só que ele não sabia que o fundo era mais liso que um sabão molhado. O fotógrafo a postos registrou tudo. A primeira foto vai hoje. Depois eu conto o resto.
 
Carlos Beppler